terça-feira, 24 de agosto de 2010

Passaporte para o ginásio

Não foi só pelo episódio do concurso de matemática nos tempos da 4ª série que eu guardo a professora Maria Luiza na memória com um carinho especial. Ela sabia da situação de todos os seus alunos de suas famílias e tentava sempre fazer algo a mais para nos ajudar a aprender. E foi com essa motivação que no final daquele ano começou a fazer mais uma campanha, desta vez para que o colégio oferecesse, no ano seguinte, a quinta série. É que naquela época o curso primário ia só até à 4ª série e esse era o compromisso do educandário para com os internos. Concluída a 4ª série tínhamos de voltar para casa e buscar cada um o seu próprio rumo. Além disso, para se entrar no ginasial era preciso passar por um exame de admissão, razão porque muitas escolas adotavam um 5º ano, também chamado de « curso de admissão ». E tal foi o seu empenho que mais uma vez conseguiu o seu intento. Ela conseguiu fazer, também, que eu entendesse que ficar um ano a mais no internato era algo necessário e bom para mim.

Mas não ficou por aí. Quando alguém sugeriu no ano seguinte que eu deveria tentar uma vaga para fazer o  ginasial no histórico Colégio Pedro II foi ela mais uma vez que me tomou como aluno especial, para que eu não perdesse aquela oportunidade. É que a disputa era bem concorrida; mais de dois mil candidatos para apenas quarenta vagas.

Faltando um mês para os exames ela conseguiu que as freiras me deixassem ir para a sua casa e me fez estudar em regime intensivo. Deu resultado. Quando o Diário de Notícias publicou a relação dos classificados, na edição do dia 20 de dezembro, meu nome estava lá. A 40ª vaga era a minha. Era o meu passaporte para uma escola considerada de elite.

Alguns dias depois minha mãe e eu fomos à casa da professora agradecer o quanto fizera por mim. Dona Maria Luiza estava feliz. Tinha sido uma vitória também sua.

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