sábado, 30 de outubro de 2010

O Colégio Pedro II (continuação)

A carteirinha (capa) de identida do Pedro II

O distintivo do 4º ano ginasial (1961)

A vida no colégio era um carrossel de novidades onde a rotina das aulas parecia apenas impor uma pausa. Para mim, em particular, havia muito mais a descobrir além do que constava nos manuais escolares. Com isso as matérias do curso formal ficaram para segundo plano. Nem mesmo a matemática escapou. A matéria era um dos pontos fortes do colégio e estava até no nosso “grito de guerra”, a “tabuada”:

“Pedro II, tudo ou nada?
Tudo!
Então, como é que é?
É tabuada!
Três vezes nove, vinte e sete.
Três vezes sete, vinte e um.
Menos doze ficam nove,
Mnos oito fica um.
Zum, zum, zum...
Paratibum...
Pedro II!”.

Nas horas de recreio os grupos se formavam para conversar e para participar das brincadeiras. Eram nessas horas também que a garotada desfilava seus novos brinquedos, revistas, livros e também seus objetos que identificavam e diferenciavam o status social de cada um: canetas Parker 51, radinhos de pilha SPIKA, relógios de pulso, raquetes de pingue-pongue importadas e outras "preciosidades" da época.

As informações chegavam mais completas e podíamos conversar sobre tudo com liberdade. Além disso, o convívio com os mais velhos, alunos do científico e do clássico, nos estimulava a formar uma consciência melhor do que se passava no lado de fora. Era comum que os estudantes, mesmo os do segundo grau, se envolvessem em assuntos de interesse público. Como havia ocorrido em 57, quando os alunos do Pedro II participaram de um grande protesto contra o aumento da passagem dos bondes e que paralizaram o trânsito em alguns pontos da cidade.

Durante os anos que estive no Pedro II assisti à construção, no Campo de São Cristóvão, do centro de exposições para as comemorações do IV Centenário da cidade. A sala de aula no quarto andar do velho prédio permitia uma boa visão daquela obra de arquitetura diferente. A colocação das placas de cobertura era uma novidade e um desafio novo para os engenheiros. Foi um trabalho demorado e custoso e, ao que tudo indica discutível. No primeiro temporal metade daquelas placas voou. Hoje, sem a problemática cobertura, está destinado a um centro de tradições nordestinas.

Na mesma época o Pedro II também estava em obras. Construía-se um novo prédio para salas de aula. Por alguma razão, entretanto, as obras foram paralisadas e assim permaneceram por muito tempo. Só foram retomadas após o incêndio misterioso que destruiu o prédio antigo, em janeiro de 61, durante as férias.

Não foi o incêndio, entretanto, que destruiu a velha instituição. Eu sai no final de 61, após concluir o 4º ano do ginasial. O regime de internato (que havia sido inaugurado em 1857) ainda durou alguns anos mais, até 1968. Foram 111 anos de história! A mudança mais importante, entretanto, viria em 1971 com a lei que reestruturava o ensino médio no Brasil e unia o curso ginasial ao primário, em oito séries, formando o novo “primeiro grau”. Ficava extinto, portanto, o processo seletivo que caracterizara historicamente o Pedro II. A instituição continua existindo até hoje, mas em bases completamente distintas das que eu experimentei ali.

Minha passagem como estudante pelo histórico colégio do campo de São Cristóvão foi muito modesta: terminei o 4º ano com média pouco acima de seis. A experiência, contudo, valeu por uma universidade.