Em 1954 foram apenas quatro os pequenos calouros admitidos no internato: o Hélio, o Chiquinho, o Benedito e eu. Ficamos todos na primeira série. Ganhamos um exemplar do livro “Meu Tesouro”, um par de cadernos “Escoteiro”, lápis e borracha, nosso equipamento de trabalho.
Depois de algumas semanas após o início das aulas Hélio e eu, por sermos um pouco mais velhos e porque já sabíamos ler fomos agrupados com os outros meninos que começavam a segunda série: o Marcos, o Valter, o Augusto e o Rogério. Estávamos todos na faixa dos oito anos. Mas tanto os da primeira quanto os da segunda tínhamos todos a mesma professora, a D. Glorinha, e dividíamos a mesma sala.
A turma dos “cavalões”, como lhes chamavam as freiras, era formada pelos “veteranos”, os mais velhos e mais antigos de casa, que cursavam a 3ª e a 4ª séries: José, Nelson, Luis, Miguel, Carlos, Herondino, Adão, Maurício, Eronides, Dernaldo, Edson, Gilberto e Ricardo.
Ao todo éramos vinte e uma crianças no ano letivo de 54. Um pingo de gente naquele casarão.
No ano seguinte foram admitidos mais doze meninos: Alfredo, Ari, Ferreira, Henrique, José Dutra, José Paulo, Mário, Napoleão, Saturnino, Sebastião, Sérgio e Xavier. Como sete dos mais velhos tinham saído no final do ano anterior passamos a somar vinte e seis. Este é o número de internos que aparece na foto adiante, feita em 1955.
Esta é a única foto feita durante os anos que lá estive (1954-1957) e foi tirada num domingo de maio de 1955, após a missa de inauguração da capela, dedicada a N.S. de Fátima. Sou o 2º a partir da esquerda, de pé, vestido de coroinha.
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Em 56 foram admitidos mais nove: Paulo, Jurandir, Geraldo, Dilzo, Raimundo, Luiz Guilherme, Jorge, Jorge Paulo e Otávio. Deduzindo os três haviam saído, o grupo subiu para trinta e dois.
Em 57 chegaram doze novos garotos: Walter, Hilário, Sebastião José, Manoel, Vitório, José Bento, Carlos Clementino, Roberto, João, Francelino, Domício e Cláudio Luiz. Tendo saído apenas quatro no final do ano anterior, o número total de internos subiu para trinta e oito. Foi a maior lotação da época em que lá estive.
Esses eram os nomes de batismo. Tínhamos números e, claro, apelidos. Havia o Bolacha, o Formigão, o Chulé, o Babão, e muitos outros. O que me parecia mais curioso de todos era o “Relógio de Bonde” atribuído a um garoto que tinha o rosto grande e redondo. Eu era o “Dumbo”.
Minha maior convivência foi com o pequeno grupo que fez comigo a segunda série, no ano de 54. Do sexteto inicial, o Helio deixou o colégio ao final de 56 para fazer o curso de admissão fora e o Augusto, por alguma razão que não me recordo, acabou se separando dessa turma no meio do caminho. Assim, apenas quatro completaram comigo a quinta série em 57: Marcos, Rogério, Valter e eu.
Os períodos mais difíceis eram sempre as primeiras semanas do ano, com a chegada dos novos alunos e o retorno das férias dos antigos. Todos reagiam à separação da família e ao regime de internato. Alguns de forma mais visível outros menos, de acordo com a personalidade de cada um. Eram sempre semanas muito difíceis e que exigiam enorme atenção das freiras e professoras.
Para os novatos era preciso passar por certa aculturação para se enquadrar no ritmo dos demais, principalmente no que se referia aos hábitos de comportamento e de higiene. As freiras eram muito atentas a esses aspectos. Procuravam fazer com que os maiores ajudassem os mais novos, estimulando o companheirismo e impedindo que houvesse qualquer prevalecimento de grupos. Nos primeiros dias eram as freiras que organizavam as brincadeiras, de modo a envolver os mais tímidos e arredios e controlar os ímpetos e imposições dos maiores. Depois de alguns dias sempre se estabelecia um bom relacionamento entre todos. Ao final do primeiro mês o processo de assimilação já estava completo e os recém chegados, com raras exceções, já tinham assumido os padrões do resto do grupo.
O “denuncismo” era uma prática muito comum entre as crianças. Em parte porque as freiras pressionavam para que alguém entregasse o “arteiro” quando o próprio não o fazia. Embora seja um comportamento relativamente comum entre crianças numa família, ali refletia também um comportamento de defesa em relação ao grupo. Isso evitava brigas ou discussões mais compridas ou abusos dos maiores sobre os menores: alguém logo abria a boca para contar qualquer alteração no grupo.
Havia, por exemplo, uma diversidade de padrões bastante curiosa com relação aos hábitos de higiene. Quando se queria ir ao banheiro, era preciso pedir licença à freira ou à professora. E as expressões que cada um utilizava revelavam seus hábitos de casa. “Posso ir ao matinho?” dizia um, “Posso ir na casinha”, pedia outro, “Quero ir lá fora!” gemia um terceiro. A freira achava graça e perguntava se o assunto era: “grande ou pequeno?” Se era “grande” levava papel.
O banho diário ao levantar era outro hábito que logo todos tinham de adquirir, assim como escovar os dentes, de manhã e à noite, arrumar a própria cama, cuidar de seu próprio uniforme.
De 1978 a 1985, período em que fui interno, a média de alunos devia estar acima dos 200. Certa vez comentaram que havia uns 300, era bem possível, havia alunos por toda a parte.
ResponderExcluirHavia um divisão das turmas, que sofreu alteração no decorrer dos anos, mas que mostra como era bem organizado o sistema interno. Havia a turma dos Menores, a dos Médios e a dos Grandes. Na primeira ficavam os novatos e alguns veteranos mais novos ou atrasados nas classes de aulas, ou mesmo por terem um porte físico franzino. Na ultima ficavam os maiores, os que estavam em vias de saírem do colégio, seja pela idade ou por estarem para concluírem os estudos. Os demais ficavam na turma dos Médios.
Depois as dependências foram reformadas, ampliadas e até novas dependências foram construídas. No lugar do galinheiro e se estendendo até o muro que dava para a rua Argentina, foi construído um prédio novo, onde foi alojada a turma E.
Nessa época as turmas eram : A, B, C, D e E. No terceiro andar do prédio central, ficavam as turmas B, C e D. A turma D era a antiga dos Menores, e ficava na parte extrema oposta ao jardim da escola, com vista para a parte da lavanderia. Na extremidade oposta, de frente para o jardim, ficava a turma B, e entre essas duas turmas, ficava a C. A turma A ficava no segundo andar, sobre a lavanderia e sobre a sala de música ( a sala da banda).
Os dormitórios eram repletos de camas, o maior deles acho era o da turma C, mas os das turmas A e E eram também populosos, com cerca de 20 a 40 camas, não me lembro ao certo, teria de forçar pela memória, visualizando os lugares de cada aluno para ter uma idéia mais precisa.
Em cada dormitório havia uma irmã responsável que dormia num quarto anexo ao mesmo. Com excessão para a turma A, que possuía duas irmãs no mesmo quarto, e para a turma E, que à excessão não tinha irmã alguma, mas sim um padre, que se mostrava presente no levantar, no deitar e nas refeições da turma, mas não tinha a mesma carga educativa que era atribuída às freiras nas outras turmas. Até porque os padres não permaneciam no colégio durante o dia todo, eles saíam sempre, creio que deviam atender em alguma paróquia nesse intervalo. Durante meu tempo por lá houvera três padres, o Manoel foi o primeiro, e veio a falecer por volta de 1983 a 1985, sem precisão alguma nesse sentido. O José foi o segundo, e não sei porque depois foi substituído por outro Manoel. (Continua...)
(Continuação)
ResponderExcluirNos inícios dos anos letivos, o número de novatos era enorme, e na verdade nunca atentei para quantos ou quem entrava a cada ano. No decorrer dos dias e meses isso ficava claro, pois ao andar pelo pátio, ou ginásio, sempre notavamos e percebíamos quem eram os novatos.
A partir de certo ano, foi imposto um limite de idade aos alunos, e aqueles com idade superior teriam de sair no próximo ano. Muitos dos mais velhos do meu tempo acabaram saindo sem se formar, e mesmo alguns da minha classe, como o Pelezinho (Jorge Luís),o Burroso (Reginaldo) e o Fábio Meira, um amigão que até hoje troco uns abraços pelo Orkut!
Depois vieram os "externos", alunos que participavam apenas das aulas, durante a parte da manhã e retornavam às suas casas. Alguns dos internos aderiram a esse sistema, e abandonaram a vida interna, como foi o caso do Alexandre Farias ( o Mário Fofoca), outro amigão que dificilmente consigo contactar, embora já me tenha feito uma visita a uns anos atrás.
Os únicos dias em que o colégio ficava menos populoso era aos fins de semana, quando alguns tinham permissão para irem passar em casa esse período. Mais tarde essa permissão tornou-se uma obrigação, e todos devíamos sair nas sextas na parte da tarde, e retornar ou no domingo à tarde, ou na segunda-feira pela manhã, com tempo para se arrumar e ir para a sala de aula. Em certas datas, quando havia missas aos domingos que contaria com a presença dos membros da candelária, ficavam todos sem as saídas para casa, e em contra partida havia as visitas, que era literalmente isso, a visita dos familiares aos educandos, que podiam receber presentes, guloseimas, etc. E era principalmente nessa ocasião que as freiras aproveitavam para informar aos pais como seus filhos viam se portando na escola. Era sempre uma data difícil para mim essas visitas, como eu torcia para nenhuma freira se lembrar de vir falar com minha mãe ou tia ... Mas elas eram impecáveis, falavam com todos os pais. Acho que nos três últimos anos me emendei !
Antonio
ResponderExcluirImportante a sua contribuição, mais uma vez. Eu não tinha idéia do quanto havia aumentado a população do colégio. Sempre que lá voltei ou era período de férias ou era um domingo. Mais recentemente participei de um evento festivo (acho que em 2005) e vi muitas crianças. Era em maio, mas também um domingo. Suponho que ali só estariam os internos.
Pelo que li do pessoal que participa da comunidade EGA no orkut, em algum momento o colégio da Teixeira Jr passou a admitir também meninas, e o do campo de S. Cristóvão, meninos. Suponho que só em regime de externato. Vc. sabe quando isso aconteceu? E o internato, acabou mesmo no ano passado?
Abraços
Oi Almicar !
ResponderExcluirHouve um tipo de intercâmbio entre os departamentos; Masculino e Feminino, mas só no horário letivo, durante as aulas. Quando entrei, em 1978 já havia essa prática, e me recordo que passei umas semanas na turma do C.A (Professora Regina), que ficava no andar térreo do Feminino, uma sala bem no começo, antes do banheiro masculino. Situava-se bem abaixo da sala dos professores. Logo depois fui transferido para a 1ª série (Professora Edna), nessa turma só havia meninos, e ficava no Masculino, era a sala que ficava do lado direito da escadaria que leva do pátio aos andares superiores, bem no centro, próxima ao refeitório. Acredito que a decisão era visando aproveitar os mesmos professores. Na 2ª série voltaria a passar um período no feminino e exatamente na mesma sala. A turma era igualmente mista, meninas e meninos; com a professora Naíde. Mas também não durou, e a turma foi separada, os meninos voltaram a estudar numa sala do Masculino, desta vez ao lado da biblioteca, em frente à entrada da sacristia; com a professora Valma.
No ano seguinte e nos sucessivos, todas as aulas foram mistas, e em salas no feminino. Da 3ª série à 8ª os meninos se deslocavam ao Feminino, e das séries anteriores as meninas ao Masculino.
Havia um micro ônibus que fazia essa condução aos internos, o Raul foi o primeiro motorista do meu tempo, logo depois passou a motorista da irmandade da Candelária, e por fim passou a ser membro da mesma irmandade. Então o Sr. Agostinho assumiu essa incumbência e tinha de nos aturar nessas viagens. Tornou-se um grande amigo nosso.
Pela manhã o micro-ônibus trazia as meninas ao Masculino, e retornava levando os meninos. Ao fim das aulas, todos os dias, a operação inversa era feita, muitas vezes em mais de uma viagem, já que alguns alunos eram liberados mais cedo, pois as meninas diferente dos meninos tinham as aulas de Educação Física na parte da manhã, e essa aula não era mista.
Algumas boas vezes apostei corrida com o micro-ônibus, que saía no horário e deixava alguns alunos para trás. Como o itinerário do mesmo era maior, devido ao sentido do trânsito, algumas boas vezes pude ganhar essa corrida, indo pela General Argolo e suas ladeiras, e subindo a ladeira da Teixeira Jr. Era uma festa quando isso se dava
Quando se iniciou a concessão aos externos, isso foi em 1983, não houve mudanças outras.
Quanto ao término do regime de internado, desconheço, mas posso me informar.
Abraços!
Sabem alguma coisa da Aída Cury q estudou por essa época no educandário?
ResponderExcluirEstou acompanhando o blog mais como curiosa, sou uma entusiasta do bairro de São Cristóvão e tudo relacionado a ele me chama atenção.
ResponderExcluirEu estou na dúvida. O Educandário é no Campo de São Cristóvão ou na Teixeira Júnior?
Olá Priscila.
ExcluirObrigado por seu interesse.
O Educandário funciona em dois prédios em S. Cristóvão. Originalmente havia só o prédio do Campo de São Cristóvão, inaugurado em 1900 e que durante alguns anos funcionou com meninas e meninos. Em 1915 a Candelária, mantenedora do Educandário, deixou de admitir meninos. Mais tarde, em 1940, voltou a receber em uma unidade situada em Teresópolis. Pouco depois a Candelária adquiriu o prédio da Teixeira Júnior, onde funcionava o tradicional colégio Pio Americano, e ali instalou o Departamento Masculino do Educandário. Mais tarde o internato foi extinto e as duas unidades passaram a receber meninos e meninas em regime de externato. No prédio da Teixeira Junior, agora chamado de EGA 2, atende as crianças menores. As maiores frequentam o EGA 1, no Campo de São Cristóvão.