sábado, 24 de julho de 2010

A peste


Durante minha estada no internato poucas lembranças ficaram de doenças que nos tivessem afetado. O único caso foi quando começamos a aparecer com feridas nas pernas, que coçavam muito e não cicatrizavam. Com o passar dos dias mais meninos ficavam contaminados. Passamos um mau bocado com as incomodas feridas que não saravam por mais mercúrio-cromo e pomada “Minâncora” que se aplicasse. Depois de algumas semanas sem resultados as freiras fizeram vir um médico que logo identificou se tratar de impetigo. A medicação, à base de banhos de permanganato foi eficaz e a cura rápida. Foi logo no início do ano e terá vindo incubado em algum de nós no retorno das férias.

O caso de doença mais relevante foi uma infecção de ouvido que um dos meninos contraiu e que as freiras não conseguiram curar com os remédios caseiros. O coitado não reclamava, mas todo muito ficava incomodado pelo visual que resultava. Tiveram que chamar o médico e por alguma razão o garoto teve de ir para casa. Voltou meses depois, curado.

Os resfriados eram relativamente freqüentes, mas sempre sem conseqüências. Em 57, porém, ocorreu um surto de gripe que deixou todo mundo assustado. Era a chamada “gripe asiática”. Eu tinha ouvido de minha mãe as estórias que os tios dela lhe contaram sobre a “gripe espanhola” que havia matado milhares de pessoas no Rio de Janeiro e milhões no mundo todo. Matou até o presidente Rodrigues Alves, já eleito mas que não chegou a tomar posse. Isso no distante ano de 1918. Felizmente a “asiática” era um vírus menos violento e não chegou a cruzar o portão do colégio. Mesmo assim teria vitimado cerca de um milhão de pessoas mundo afora.

Apesar do constante sobe e desce pelas escadas, das brincadeiras no recreio e da arriscada prática de “esquiagem” nas varandas ensaboadas, em dia de faxina, nenhum de nós sofreu qualquer fratura ao longo daqueles anos. Parece que todos tínhamos um bom anjo da guarda.

Um comentário:

  1. Da gripe espanhola ouví bastante. Mas não sabia que já nessas épocas havia os modismos atuais, das gripes asiáticas, suínas etc. Vendo assim tudo parece questão de ciclos temporais.
    Do meu tempo, foram tantas as doenças, que nem lembro mais. Sarampo, caxumba, sarna, catapora (seria a mesma coisa que sarampo ? rsss), princípio de pneumonia. Peguei todas, e mais algumas a La gripes, mas saí ileso. O mais grave foi um caso de meningite que acometera a um dos nossos colegas, mas que felizmente se curou.
    Bom, pelo menos escapei das pulgas e do impetigo. Se bem que a sarna coçava pacas rssss

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