segunda-feira, 19 de julho de 2010

O teatro

Em 1956 aconteceu a Olimpíada de Melbourne, na Austrália. Foi quando Ademar Ferreira da Silva conquistou o bicampeonato no salto triplo. Era um feito que amenizava o sentimento de frustração com o fracasso no futebol em 50 e 54. Talvez estimulado por aquele evento o colégio recebeu pouco tempo depois uma professora de ginástica. Jovem e cheia de idéias dedicou-se com afinco para nos ensinar exercícios físicos, mas, também, novos jogos e brincadeiras. A certa altura conseguiu convencer as freiras a montar uma peça de teatro para ser encenada pelos alunos. A peça era, na verdade, uma apresentação de ginástica artística infantil.

A realização do projeto exigiu muito trabalho. Tanto com a montagem, como, principalmente, com os ensaios. Passamos várias semanas nessa lida. A idéia era montar um palco no salão grande do segundo andar, um dos que estavam permanentemente fechados. Carecia, portanto, espantar as baratas e obrigar as aranhar a mudar para outro lugar; fazer uma limpeza em regra.
Como a maioria das dependências do colégio, o salão tinha piso de taco de madeira. Varrer o pó acumulado seria fácil, mas ia dar um trabalhão encerar e lustrar aquilo tudo na base do escovão. A causa, entretanto, era boa e muitos estavam dispostos a enfrentar a tarefa. Fui escalado para o pelotão encarregado da missão. Uma surpresa nos esperava.

Assim que entramos e começamos a abrir portas e janelas levamos um baita susto: dezenas de pulgas pularam para as nossas pernas e puseram todo mundo em retirada. Refeitos do susto a reação não tardou: alguém inventou a brincadeira de ver quem pegava mais daqueles bichinhos. Mas elas eram mesmo muitas e nos puseram para correr outra vez. Com as pernas cheias de picadas tivemos que apelar para as freiras e pedir equipamento pesado: as bombinhas “Super Flit”, com inseticida a base de DDT.

Ninguém sabia exatamente de onde tinham vindo tantas pulgas, mas as suspeitas recaíram sobre a pequena Yale, a cachorrinha das freiras.

Chegou enfim o grande dia da apresentação. A sala estava cheia, com as famílias dos alunos, as professoras e o pessoal da Irmandade da Candelária.

Eu participava em um grupo que tinha que fazer algumas manobras e formações pelo palco. Vestíamos calção azul e camiseta branca sem mangas e cada um de nós levava um par de alteres coloridos para com eles fazermos os movimentos ensaiados. Eram leves e pelo barulho que faziam quando se chocavam pareciam ser de madeira. Apesar dos ensaios, a coordenação coreográfica do grupo deixava muito a desejar. Nossos alteres nunca se chocavam ao mesmo tempo. Parecíamos um grupo de tocadores de castanholas destrambelhados.

Apesar das nossas muitas falhas todos ficaram satisfeitos pelo resultado. Mesmo sem me sentir à vontade naquele palco – para os meus parcos dotes artísticos já bastava ter de desempenhar o papel de coroinha todos os fins de semana – a experiência mexeu com a nossa cabeça. Foi realmente algo que deve ter ficado na memória de todos.

Pena que a professorinha tenha ficado pouco tempo conosco. Mas enquanto lá esteve foi como uma rajada de vento fresco.

Um comentário:

  1. Uauu ! Então será essa a origem do palco que fica na última sala do segundo andar ?? Estranho, sempre achei que ele "nascera" ali, pois desde que entrara no Educandário ele já lá estava. Muitíssimo interessante !! E essa das pulgas então !! Vocês foram verdadeiros pioneiros, literalmente deram sangue na história do EGA, rssss!

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