terça-feira, 4 de maio de 2010

Primeira comunhão

O internato não era um seminário, mas era parecido. Mantido por uma tradicional instituição católica e administrado por freiras era natural que a religião tivesse presença marcante na nossa vida diária. Rezávamos antes e depois de começar cada atividade. A primeira oração era feita ainda ao lado da cama, logo que nos despertavam. A última, antes de nos deitarmos. Isso sem contar as orações individuais que cada um fazia, pelos seus familiares, ou na esperança de se livrar de um castigo, ou por qualquer outro motivo que achássemos que só Deus, os Santos ou o nosso Anjo da Guarda nos pudessem valer.

Logo no meu primeiro ano de Educandário prepararam-me para fazer a primeira comunhão. A mim e a todos os outros na mesma faixa de idade. Ao longo do segundo semestre as freiras se revezavam no ensino do catecismo. A cerimônia aconteceu no final do ano, no dia 8 de dezembro, dia dedicado à Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Tratava-se de um dia especial porque naquele ano completava-se o centenário da proclamação, feita pelo papa Pio IX, do dogma da Imaculada Concepção. A missa foi realizada na velha igrejinha de São Cristóvão, na Praça Padre Seve, porque a capela do colégio ainda não estava pronta. Todos estávamos a caráter, vestidos de branco, vela com laço de cetim em uma das mãos e o livro de orações na outra. Não tínhamos idéia de quanto nossas famílias tinham gastado para adquirir aqueles paramentos todos, mas isso não importava naquele momento. Desfilamos cheios de importância e orgulho pelo passo que estávamos dando. A missa, por ser um evento especial, era mais comprida do que o normal, mas pareceu-nos ainda mais longa porque estávamos todos em jejum. Ao final ganhamos um café da manhã como nunca havíamos tido antes, com chocolate, bolos, biscoitos e a presença da família: uma verdadeira festa. A festa maior, entretanto, viria logo depois: não tínhamos que voltar de jardineira para o colégio; estávamos livres para ir para casa, em férias.

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