terça-feira, 11 de maio de 2010

A capela



No ano de 55 a capela do Educandário ficou pronta. Dedicada a Nossa Senhora de Fátima foi inaugurada festivamente pelo monsenhor Henrique de Magalhães que era então pároco da Igreja da Candelária. A capela era muito simples e despojada, com as paredes pintadas numa cor clara, em tom levemente azulado. No átrio, alinhavam-se duas dúzias de bancos de madeira, divididos por um corredor central. A parte superior era formada por um balcão em forma de « U » e se ligava ao piso inferior por uma escada em espiral num dos cantos ao fundo da capela. Nesse balcão foi instalado um pequeno órgão onde a Irmã Vicência demonstrava sua habilidade no manejo do duplo teclado, registros e pedais para acompanhar os cânticos que ensaiávamos todas as tardes, depois do “crieléison”, - como chamávamos a ladainha do “Kyrie”. Naquela altura ainda se rezava quase tudo em latim. O pequeno altar ficava encimado por uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, ladeada por dois anjos que, com expressão fixada no horizonte distante e como se não lhes pesasse nada, sustentavam duas estruturas de luminárias de globos.

Apesar de sua arquitetura simples a nova capela passou a ser motivo de orgulho para as freiras. É que a partir dali teriam um espaço mais adequado para fazer as orações e para a educação religiosa dos seus pupilos. Nós, as crianças, já ficamos menos contentes, pois deixaríamos de fazer o passeio matinal dos domingos para assistir a missa na Igreja de São Cristóvão e dar uma espiadela no mundo exterior. Era um passeio curto, meia dúzia de quarteirões, mas era sempre uma diversão. Íamos na velha jardineira conduzida pelo seu Luciano. Como os outros membros da irmandade da Candelária, aparecia sempre bem vestido, de terno e gravata, pequeno bigode e cabelos pretos penteados com “gumex”. Quando dirigia a jardineira tirava o paletó e ostentava uma camisa sempre muito branca. Era sempre pontual e atencioso.

O contato com outras pessoas, entretanto, não acabou totalmente: aos domingos as freiras permitiam que os vizinhos da rua assistissem à nossa missa. Ficavam ao fundo e não havia possibilidade de contato.


Pouco antes da inauguração da capela do colégio monsenhor Magalhães tratou de formar alguns coroinhas. Fomos cinco os escolhidos: o Augusto, o Luís, o Rogério, o Marcos e eu. O vai-e-vem do missal, os toques da campainha, a água e o vinho das galhetas, todo o ritual tinha que estar bem decorado para não quebrar a seqüência da cerimônia. E assim também as falas, tudo em latim, que a gente de tanto repetir ia pouco a pouco descobrindo as semelhanças com o português.

Com o início das missas na capela as freiras organizaram uma espécie de revezamento entre nós, dois a cada domingo. Nos dias de festas religiosas, como na Páscoa, atuávamos todos. Às vezes éramos convocados para participar de alguma missa festiva na Igreja da Candelária.

Eu era muito tímido e aquela exposição no altar não combinava com o meu jeito de ser. Mas as freiras tanto nos elogiavam e o monsenhor também que acabei me acostumando.

Apesar de a capela ter limitado nossos passeios ainda assim tivemos algumas oportunidades de sair para participar de eventos religiosos. Um deles foi o Congresso Eucarístico Internacional, que ocorreu em meados de 1955 sob a responsabilidade de D. Hélder Câmara. As cerimônias davam-se no aterro da Glória, no local onde mais tarde foi construído o Monumento dos Pracinhas. Na época era apenas uma área enorme em terra batida onde tinham sido montados um altar mor, numa parte alta, e centenas de bancos de madeira para atender à multidão.

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