segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Visita ao mausoléu de Antonio Gonçalves de Araújo



É no cemitério de São Francisco Xavier, ou do Cajú, como é popularmente conhecido, que se encontra o túmulo de Antonio Gonçalves de Araújo. 

Originalmente sepultado na sepultura perpétua nº 1829, seus restos mortais foram transladados em 1926 para um honroso mausoléu mandado construir pela Candelária.

Apesar de estar situado a menos de dois quilômetros do Campo de São Cristóvão, não me lembro de ter participado de qualquer ato comemorativo nesse local durante os quatro anos em que fui interno do Educandário. Agora, quase seis décadas após deixar o colégio, achei que devia visita-lo. Assim, na tarde do dia 24 de agosto de 2016 entrei por primeira vez naquela necrópole. Munido com as indicações recebidas na Candelária, não me foi difícil localizar o mausoléu, situado na quadra 3 da Rua das Rosas, logo à esquerda da entrada principal.

Diante da pequena construção senti que cumpria um ato de reconhecimento e, em silêncio, considerei uma vez mais o quanto da minha trajetória de vida – e certamente a de muitos outros ex-alunos - devia ao nobre legado de Antonio Gonçalves de Araújo e à gestão que há mais de um século lhe tem dado a Irmandade da Candelária.

A elegante peça arquitetônica que honra sua memória foi encomendada ao mestre Rodolfo Bernardelli, atualmente reconhecido como o mais notável dos nossos escultores. Foi executada pelo marmorista Bernardino de Paula. São seus vizinhos os túmulos da família Mayrink Veiga e do Barão do Rio Branco.



O mausoléu que guarda os restos mortais de Gonçalves de Araújo,
no cemitério de São Francisco Xavier, tendo ao fundo o recorte do Corcovado.

Pouco abaixo do busto do benfeitor, também obra de Bernardelli, se lê:

“À orfandade legou pão e luz e enobreceu duas pátrias”.

A frase é provavelmente da autoria do barão de Ramiz Galvão, então diretor do Educandário, e consta do discurso que proferiu na tarde do dia 29 de junho de 1926, na cerimônia com que se inaugurou aquele mausoléu. Ele pretendeu resumir assim o significado do legado de Gonçalves de Araújo: dar abrigo material (pão) e educação (luz) a crianças pobres. Talvez pudessem ser substituídas pela redação simples e clara que o próprio benfeitor usou ao ditar seu testamento:

“Os meus testamenteiros criarão em minha intenção nesta cidade uma instituição de beneficência para crianças desvalidas, onde se lhes dê sustento, educação e instrução primária e industrial ...”


Vista frontal do mausoléu

Abaixo dessa inscrição foi colocada uma placa metálica com a reprodução da fachada do prédio do Educandário, construção que assinalava aos olhos da cidade a sua obra benemérita. Outra placa, pouco acima do solo, registra a gratidão da Irmandade:

Ao grande benfeitor Antonio Gonçalves de Araújo
Gratidão da Irmandade do S.S. da Candelária
1925-1926

Estiveram presentes ao ato o provedor Albino Ferreira de Sá Coelho, toda a administração da Candelária, membros do corpo docente e um grupo de alunas do Educandário. 

Ao final da cerimônia todos se dirigiram ao prédio do Educandário, no Campo de São Cristóvão, onde foi inaugurado o retrato do conselheiro Gaspar da Rocha, falecido em 1916, que havia sido o testamenteiro de Gonçalves de Araújo e responsável pela destinação do legado à Irmandade da Candelária.



Créditos:
Texto e fotos: Amilcar Gramacho (ex-aluno; 1954-1957).
Fontes:
Arquivo F. B. Marques Pinheiro (Irmandade do SS da Candelária)
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional: O Tempo, 24/09/1891, p.1; Correio da Manhã, 30/06/1926, p.8; Jornal do Brasil, 18/04/1926, p.12, 27/06/1926, p.13, 29/06/1926, p.14 e 30/06/1926, p.12.

Brasília, outubro de 2016

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