É no cemitério de São Francisco Xavier, ou do Cajú, como é
popularmente conhecido, que se encontra o túmulo de Antonio Gonçalves de
Araújo.
Originalmente sepultado na sepultura perpétua nº 1829, seus restos
mortais foram transladados em 1926 para um honroso mausoléu mandado construir
pela Candelária.
Apesar de estar situado a menos
de dois quilômetros do Campo de São Cristóvão, não me lembro de ter participado
de qualquer ato comemorativo nesse local durante os quatro anos em que fui
interno do Educandário. Agora, quase seis décadas após deixar o colégio, achei
que devia visita-lo. Assim, na tarde do dia 24 de agosto de 2016 entrei por primeira
vez naquela necrópole. Munido com as indicações recebidas na Candelária, não me
foi difícil localizar o mausoléu, situado na quadra 3 da Rua das Rosas, logo à
esquerda da entrada principal.
Diante da pequena construção
senti que cumpria um ato de reconhecimento e, em silêncio, considerei uma vez
mais o quanto da minha trajetória de vida – e certamente a de muitos outros ex-alunos
- devia ao nobre legado de Antonio Gonçalves de Araújo e à gestão que há mais
de um século lhe tem dado a Irmandade da Candelária.
A elegante peça arquitetônica que honra sua memória foi
encomendada ao mestre Rodolfo Bernardelli, atualmente reconhecido como o mais
notável dos nossos escultores. Foi executada pelo marmorista Bernardino de
Paula. São seus vizinhos os túmulos da família Mayrink Veiga e do Barão do Rio
Branco.
O mausoléu
que guarda os restos mortais de Gonçalves de Araújo,
no
cemitério de São Francisco Xavier, tendo ao fundo o recorte do Corcovado.
Pouco abaixo do busto do benfeitor, também obra de
Bernardelli, se lê:
“À orfandade legou pão e luz e enobreceu duas pátrias”.
A frase é provavelmente da autoria do barão de Ramiz Galvão,
então diretor do Educandário, e consta do discurso que proferiu na tarde do dia
29 de junho de 1926, na cerimônia com que se inaugurou aquele mausoléu. Ele
pretendeu resumir assim o significado do legado de Gonçalves de Araújo: dar
abrigo material (pão) e educação (luz) a crianças pobres. Talvez pudessem ser
substituídas pela redação simples e clara que o próprio benfeitor usou ao ditar
seu testamento:
“Os meus
testamenteiros criarão em minha intenção nesta cidade uma instituição de
beneficência para crianças desvalidas, onde se lhes dê sustento, educação e
instrução primária e industrial ...”
Vista frontal do mausoléu
Abaixo dessa inscrição foi colocada uma placa metálica com a
reprodução da fachada do prédio do Educandário, construção que assinalava aos
olhos da cidade a sua obra benemérita. Outra placa, pouco acima do solo, registra
a gratidão da Irmandade:
“Ao
grande benfeitor Antonio Gonçalves de Araújo
Gratidão
da Irmandade do S.S. da Candelária
1925-1926”
Estiveram presentes ao ato o provedor Albino Ferreira de Sá
Coelho, toda a administração da Candelária, membros do corpo docente e um grupo
de alunas do Educandário.
Ao final da cerimônia todos se dirigiram ao prédio do
Educandário, no Campo de São Cristóvão, onde foi inaugurado o retrato do
conselheiro Gaspar da Rocha, falecido em 1916, que havia sido o testamenteiro
de Gonçalves de Araújo e responsável pela destinação do legado à Irmandade da
Candelária.
Créditos:
Texto e fotos: Amilcar Gramacho (ex-aluno; 1954-1957).
Fontes:
Arquivo F. B. Marques Pinheiro (Irmandade do SS da Candelária)
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional: O Tempo, 24/09/1891, p.1;
Correio da Manhã, 30/06/1926, p.8; Jornal do Brasil, 18/04/1926, p.12,
27/06/1926, p.13, 29/06/1926, p.14 e 30/06/1926, p.12.
Brasília, outubro de 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário